(Breve nota sobre como é viver tendo doenças psicológicas)

   De vez em quando o gosto amargo da vida te bagunça os sentidos sabe? E isso vai desde uma visão turva até aquelas crises existenciais que incomodam intensamente a alma e nos transformam nesses covardes atordoados pela vida.
   De vez em quando a gente só quer se fragmentar em vários pedaços pra diminuir esses excessos acumulados em um lugar só. A gente só quer uma fuga dos dias que torturam e sufocam. E tudo bem. Todo mundo passa por isso.
   Mas foi aos 21 anos de idade, no auge de um sofrimento psicológico um tanto quanto exacerbado pra uma alma tão jovem, chorando no chão de um banheiro às quatro da manhã com as mãos trêmulas segurando uma navalha e os pensamentos incontroláveis, que descobri, com certo medo do poder altamente destrutivo que essa informação tinha, que a mente humana é um lugar hostil de se habitar.
   Diria que nos acostumamos com o tempo, mas seria uma mentira. Já não tenho mais um orgulho suficientemente grande para manter-me em convicções racionais, ou para me manter longe de todas as contradições e paranoias. Sendo assim, sinto tudo com uma intensidade avassaladora. Vejo-me desamparada porque a racionalidade me guiou até esse exato momento só para que eu possa vê-la se esvair com toda minha falta de jeito, e o restante da minha sanidade mental.
   A ausência de auto controle chega pelas beiradas e reside em detalhes fúteis. Ela me devora como num show em que canto a plenos pulmões como se pudesse me libertar. A madrugada é sempre doída, daquele jeito de criança que desperta em meio ao pesadelo e sai tateando no escuro à procura de colo.
   Sussurrei uma variedades de canções um tanto quanto melancólicas, me vi personagem de todas. Hoje pensei que o papel é a arma mais egoísta que temos. A gente escreve pra se livrar dos excessos, mas e depois, quem se liberta de nós?

Seja bem vindo, e até logo.
Beatryz Duarte

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