Alétheia

    Há algum tempo não consigo mais escrever e me esvaziar completamente, não consigo sentir-me livre de tudo que me assombra. É como não suportar meios termos e sentir que vai ser pra sempre um. Eu sou meu maior mistério. Invisível e indecifrável.
   Você sabe mais do que qualquer outro, que eu sempre soube exatamente como passar despercebida. Abafando os gritos que vinham de dentro, me afogando num mar de versos guardados. Todo mundo se encontrando, se encaixando, avistando um cais. E eu não consigo nem me ouvir no meio de tantas vozes ou me manter ancorada no meu próprio corpo.
   Em algumas noites, ser esse copo vazio e eternamente transbordando, é em demasia cansativo e doloroso. Logo agora que me sinto quase que permanentemente curada de sentimentos que me mantiveram refém por tanto tempo.
   Ainda sinto-me presa demais a tudo que eu não consegui dizer e ficou aqui emaranhado entre os meus silêncios. Quando escurece e a quietude da noite me adentra pelas frestas, sinto como se eu tivesse nascido pra me equilibrar nesse trapézio sozinha. E tremo. Tremo e choro porque a noite me diz que estou a milhas de distância de mim mesma. Do momento em que finalmente vou me encontrar e aprender a lidar com tamanha instabilidade emocional.
   Talvez meu coração ainda seja pequeno demais pra amar. Ou foi o tempo que me fragmentou em partes que estou predestinada a nunca mais encontrar. Mas talvez você possa me ensinar a amar esses meus passos desgovernados, sempre em direção a lugar nenhum. Talvez você segure a minha mão e me ensine como ser uma canção mais doce, menos melancólica.
    Dizem "sua voz é bonita", mas talvez eu não cante nas nossas noites juntos, por medo de você se sentir aprisionado na minha solidão que grita entre as notas.

Bem vindo, e até breve.

Beatryz.

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