A farsa da heroína

   Em todos os aspectos da frase “sou a heroína da minha própria história e não preciso ser salva” eu não me encaixei e só agora caiu a ficha. Prefiro acreditar que quando minha mãe me ensinou sobre a urgência de ser grata, ela não sabia que estava me apresentando a um vício que é uma das minhas maiores dádivas e é uma das minhas maiores derrotas. Se hoje eu sou pedaços de papel rasgados e entregues como panfletos é porque escrevi no centro da minha testa que deveria cumprir meu dever de ser folha em branco para outros escreverem suas histórias através de mim.
    A minha necessidade de agradar condiz com o tamanho do meu vazio, e eu cheguei na parte mais amável que habitava minhas células na necessidade de agradar qualquer pessoa que demonstrasse afeto por mim. Deveria dizer “venha e se acomode, pode levar o que quiser, desde que decida ficar no final” e criei um ciclo de alimentar todos os egos, os sorrisos e palmas que estivessem precisando das minhas palavras, enquanto gastei mais do que podia do meu oxigênio para simplesmente empurrar os outros, fazendo-os ir. E se você se pergunta se eu ajudei a destruir alguns vilões eu lhe digo que sim, mas eles nunca foram meus.
   E deitada na minha cama hoje, exatamente as 2 horas da madrugada eu percebi que nada disso que vai tomando conta das minhas transmissões cerebrais é novo pra mim. Não é fácil pensar que jamais saberei direito como proceder em casos de crise sem que o véu de heroína caia por terra e descubram a minha farsa. Não é fácil olhar pra cima e perguntar "MEU DEUS como estive tanto tempo ajudando e não lembrei da menina medrosa que ficou pra trás sem saber como se mover".
   É uma sobrecarga que leva minha energia durante toda a semana e nos sábados e domingos eu fico sozinha, brincando como uma zumbi que nunca aprendeu o equilíbrio de ter outras peles sem precisar agarrar e se fundir. Sinto que cheguei no meu limite e não sei como dou a curva pra ir me buscar, porque sequer parei pra pensar que me faltava uniforme de herói. O PENTEADO . O SÍMBOLO , e principalmente A CORAGEM . É tão paradoxal que me faz rir. talvez eu devesse escrever uma tragicomédia.

Até breve.
Beatryz

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